segunda-feira, 5 de maio de 2008

PROGRAMA Nº 8


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Em nosso oitavo programa o entrevistado é o poeta Paulo Ferraz. Ele nasceu no Estado do Mato Grosso em 1974. É bacharel em Direito e mestre em Teoria Literária. Publicou Constatação do óbvio (1999), De novo nada (2007) e Evidências pedestres (2007) pelo selo Sebastião Grifo, que fundou com os poetas Matias Mariani e Pedro Abramovay. Foi também um dos editores da revista Sebastião, pelo mesmo selo e dedicada a fomentar o debate acerca da poesia brasileira contemporânea. Tem poemas publicados nas antologias Paixão por São Paulo - antologia poética paulistana, organizada por Luiz Roberto Guedes (São Paulo: Terceiro Nome, 2004) e Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século 21 (São Paulo: Publifolha, 2006), organizada por Manuel da Costa Pinto.

Nas dicas culturais, quem nos dá suas sugestões é o poeta Ricardo Aleixo.

No quadro sonar, confira o poema "Querência", de João da Cunha Vargas, musicado por Vitor Ramil. O trabalho faz parte de seu CD Longes (2004).
A trilha incidental do programa conta com trechos da música composta por André Abujamra ”O mundo”, interpretada por Ney Matogrosso e Pedro Luís & a Parede.



Querência

Deixei a velha querência
Saí de lá mui novinho
Com tabuleta ao focinho
E a marca já descascada
Ponta da cola aparada
Sinal de laço ao machinho

Por estes campos afora
Deste Rio Grande infinito
De pago em pago ao tranquito
Repontando o meu destino
Do campo grosso pro fino
Fui me criando solito

Angico, Mariano Pinto
Picada onde me criei
Por tudo ali eu andei
Bebendo e jogando a tava
Bem montado sempre andava
Corri carreira e dancei

Cruzei picadas escuras
Prum baile ou jogo de prenda
Derrubei porta de venda
Pra tomá um trago de canha
E esporeei boi na picanha
Em tudo que foi fazenda

O que viesse eu topava
Serviço, festa ou peleia
Cortei muita cara feia
De indiozito retovado
E amancei muito aporreado
Com pé-de-amigo e maneia

Um dia me deu saudades
E eu fui rever o meu pago
Sentir da china o afago
E o vento frio do pampeiro
No coração caborteiro
Do meu peito de índio vago

O tempo passou, lá se foi
E eu não queria que fosse
Tudo pra mim terminou-se
Nem eu sou mais o que era
A estância virou tapera
E o que era xucro amansou-se

E hoje só o que me resta
É o pingo, o laço e o pala
Pistola, só com uma bala
E a estrada pra bater casco
No cano da bota um frasco
E um fiambrezito na mala!


(João da Cunha Vargas)

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